 
 É com imensa saudade e até talvez um pouco de nostalgia que lembro da lancha de desembarque pequena LDP 201, que no início da nossa marinha de guerra foi herdada da marinha portuguesa e a qual foi a minha primeira responsabilidade neste ramo das forças armadas. Com 16 anos de idade comandei esta lancha tendo como tripulação dois maquinistas, acumulando eu também a função de artilheiro. Tenho dela algumas histórias que me marcaram bastante e que talvez um dia eu conte, mas a que mais me marcou foi a de um dia em que tive que sair ás quatro e meia da manhã para bater a costa numa distância de cerca de 70 Km á procura de um corpo de alguém que se afogara três dias antes na foz de um rio, conseguindo localizá-lo á tardinha sendo o mesmo resgatado por um helicóptero. De regresso cheguei á noite ao ancoradouro e encontrando as panelas de comida para um contingente de quase setecentos homens que se encontravam numa ilha á qual eu levava o apoio logístico, decidi levar o alimento a esse pessoal que houvera passado todo o dia sem comer e de repente começa a chover forte com muitos raios e trovoada e o mar ficou tempestuoso. Nesse dia eu estava apenas com um maquinista e ele recusou-se a ir pois é uma área com imensos bancos de areia em que tem que seguir determinada sinalização de boias para não se encalhar e destruir a embarcação com a força das ondas. Discutimos alguns instantes e resolvi ir sozinho sob os protestos do colega que me dizia que estava armando em herói. Desci á casa de máquinas arranquei os motores e parti. Não foi fácil mas com a ajuda dos holofotes e determinação consegui chegar, desembarcar a comida e regressar. Tive que fazer o atraque sozinho pois meu colega estava abrigado da chuva a alguma distância e não me quis vir receber mas após eu ter efetuado o atraque e desligado as máquinas ele veio para se abrigar no conforto do camarote, o que eu com arma na mão não deixei pois se setecentos homens poderiam passar fome por mais de 24 horas ele também poderia aguentar uma noite de chuva e frio. Concluindo, no dia seguinte e contra a vontade teve que cumprir com as tarefas que nos foram atribuídas mas de regresso á base foi para casa e nunca mais regressou...desertou. Nessa lancha muitas mais histórias se passaram mas esta foi a que mais me marcou e que aqui convosco compartilho. Que tempos...
 
 
Turbo FM 
 

 
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